Dienstag, 20. Oktober 2015

E foi ao som do tilintar das rótulas dos colunistas do Observador...

...que decidi regressar à blogosfera e ajudar a minha amiga Minerva a dinamizar este espaço. Para abrir as hostilidades deixo este simpático desmontador de argumentos anti-maioria de esquerda, para que pelo menos aqui haja quem não precise d'O Observador para ler textos de boa ficção. Assim, cá ficam os cacos dos primeiros 10 chavões que têm sido publicados nos últimos dias:
  1. "Quem ganhou as eleições foi a PàF": sendo certo que é inegável que a PàF teve mais votos que qualquer um dos restantes partidos, não é claro quanto valem CDS e PSD - se assumirmos que os 18 deputados do CDS (16,8% dos deputados da PàF) não são uma representação exponenciada do real peso daquele partido, isso significa que na verdade os 38,6% de votos da PàF correspondem a 32,1% do PSD e 6,2% do CDS. Nesse sentido, o PS teve uma percentagem de votos ligeiramente superior à do PSD (32,3%) e foi na realidade o partido mais votado;
  2. "O PSD tem mais deputados que o PS": também é verdade, mas mais uma vez apenas graças à matemática e a jogadas que não dependem dos votos. Se PSD e CDS tivessem concorrido separados, a aplicação das regras de distribuição de deputados determinadas pelo método de Hondt faria com que a PàF tivesse menos 5 deputados, perdendo 3 para o PS e 2 para o BE (sem mudar o sentido a um único dos votos expressos a 4 de Outubro). Se assim fosse, sem esta jogada matemática o PS teria 88 deputados, o PSD 86, o BE 21 e o CDS 18 e a moral dos comentadores do regime ficaria muito mais apaziguada. Já o efeito matemático de uma coligação PS/BE (que teria 42,5% dos votos) deixaria estes dois partidos muito perto da maioria absoluta - ou mesmo na maioria absoluta, seria uma questão de ver a distribuição de deputados nos ciclos mais decisivos;
  3. "Isto é um golpe de Estado democrático": não é, por várias razões. Em primeiro lugar, porque estas são as regras de todas as democracias parlamentares. E em segundo lugar porque não há uma verdadeira alternativa de governo, apenas dois partidos que se juntaram para em conjunto conseguirem não mais que 38,6% dos votos;
  4. "O PS defraudou os seus eleitores, pois nunca colocou este cenário antes das eleições": também não é verdade. No dia 18 de Setembro António Costa referiu que não aprovaria um Orçamento da PàF e foi muito criticado por isso, tendo na altura sido dito que com essa afirmação "Costa perderia o Centro";
  5. "Se os eleitores do PS soubessem desta possibilidade o seu voto seria diferente": igualmente falso. Na verdade, verificou-se exactamente o contrário: nesta sondagem da TVI o PS e BE aumentaram a percentagem de votos e o PCP diminuiu ligeiramente, mas a "Frente de Esquerda" passa de 50,6% nas eleições para 52,5% (embora a PàF também subisse 2,7%), sendo que PS+BE teriam 43,7% dos votos, o que muito provavelmente daria maioria absoluta;
  6. "Não se pode confiar em partidos que têm a reforma agrária ou a saída da NATO no programa eleitoral, pois se eles fizerem isso estarão a defraudar os seus eleitores": moderadamente verdade. Embora em Portugal haja uma longa tradição de partidos que no governo fizeram precisamente o contrário do que prometeram (e Passos Coelho seja o campeão nessa área), na verdade não se pode aplicar a uma coligação o mesmo grau de exigência que a um partido que governe sozinho. Ou seja, partidos que se coliguem têm sempre que ceder, escolhendo apenas algumas das medidas apresentadas aos eleitores para serem aplicadas. E nessa medida é possível um governo intelectualmente honesto da parte de BE e CDU, desde que se comunique de forma expressa que medidas é que estes partidos terão possibilidades de implementar;
  7. "Só se pode contar com partidos do arco da governação": há que recordar que a expressão "arco da governação" foi inventada por Paulo Portas para se legitimar em 2011 enquanto muleta de Passos Coelho. Além disso, há no CDS níveis de extremismo e ultraconservadorismo (quem não se lembra das propostas de lei sobre o aborto ou a co-adopção, para referir apenas os exemplos mais gritantes) que seriam absolutamente incompatíveis com um "arco da governação" digno desse nome;
  8. "Um governo de PS+CDU+BE vai fazer regressar o PREC e estatizar a economia": tendo em conta que acabámos de ter o governo que mais impostos subiu em toda a história da democracia, não vejo como se pode estatizar ainda mais;
  9. "É impossível algum partido coligar-se com o PCP": não é verdade. A Câmara de Loures funciona com uma coligação PSD/PCP e há vários casos de coligações PS/PCP em autarquias, a começar por Lisboa. O próprio Rui Rio chegou a ter acordos com o PCP;
  10. "PS, BE e CDU nunca se vão entender, são demasiado diferentes": vamos ver. Para já as coisas parecem bem encaminhadas.

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